- Não vou mentir para você, eu tenho ciúmes desse cara.
No outro lado da linha ela riu como nunca antes.
- Mas por quê?
- Porque você encontrou alguém e pra mim nós somos para sempre, como uma doença ou sei lá o que.
- Só se for uma doença venérea.
Ela ria sem parar, para mascarar, chutar para baixo do tapete a dor que vinha à tona quando se falavam - uma vez a cada trimestre.
A risada dela invadia os ouvidos dele e o confundia, se ao menos pudesse entender o que ela sentia agora, se era ironia ou desespero.
- Não tem graça – ele replicou.
- Eu achei engraçado!
Disse tentando engolir a risada.
- E o que é que você não acha?
Riu na tentativa de manter o humor dela, mas o silêncio rolou pelos fios telefônicos, atravessando os estados, batendo em cada poste que aparecia, transformando-se em uma avalanche.
Avalanche de desânimo.
- Não te ver há mais de três anos. Isso não é engraçado.
E o desânimo vinha rolando montanha à baixo, estado a baixo, cada vez mais rápido, cada vez maior. Peso, altura, percurso, aceleração e gravidade!
- Não entendo esse teu masoquismo.
Dizia que não entendia, no entanto gostava de relembrar dos sabores e dos cheiros dela quando se sentia sozinho.
- Se eu não me torturasse não teria mais vontade de voltar, entende? Enquanto meus ouvidos arderem ao escutar teu nome vou ter vontade de voltar, mas se isso passar eu vou esquecer e você vai ser apenas mais uma história que eu escrevi.
- Hum! Essas coisas me machucam também.
- Eu sei.
- Sabe?
- Sim. Sadomasoquismo. Quando deixar de doer em ti, eu vou te esquecer.
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